JERUSALÉM — As Forças Armadas israelenses anunciaram na noite desta quinta-feira — madrugada de sexta no horário local — o início de um ataque por terra à Faixa de Gaza, em meio aos bombardeios aéreos contra o grupo islamista Hamas e seus aliados no território palestino de 2 milhões de habitantes. Ainda não está clara a dimensão da operação nem quanto tempo ela foi planejada para durar.
A última invasão de Gaza ocorreu em 2014, e, embora tenha anunciado antes que havia soldados dentro do território, o Exército voltou atrás e afirmou que não há, atribuindo a primeira informação a um “problema de comunicação”.
O ataque terrestre a Gaza ocorre no quarto dia de confrontos entre os militares israelenses e o Hamas, que lançou desde segunda-feira mais de 2 mil foguetes de fabricação própria contra o território israelense, em represália à repressão a protestos de palestinos em Jerusalém contra o possível despejo de quatro famílias do setor oriental, ou árabe, da cidade .
Antes da operação terrestre, 109 palestinos morreram, incluindo 28 crianças, em mais de 600 bombardeios israelenses, enquanto 6 israelenses, entre eles uma criança, e uma cidadã indiana morreram vítimas dos foguetes.
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Segundo testemunhas em Gaza, houve um intenso uso de artilharia acompanhado por disparos feitos por helicópteros de ataque. Em solo, uma coluna de veículos blindados se dirigia à fronteira.
Testemunhas disseram à emissora al-Jazeera que Israel começou a utilizar artilharia e tanques para atirar no enclave ainda durante a tarde, levando centenas de famílias a fugirem de suas casas no Norte de Gaza.
Ao longo do dia, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reforçou o número de soldados na fronteira com Gaza, deixando-os a postos em “vários níveis de preparação”, o que sugeria uma ofensiva terrestre iminente. Pelo menos três brigadas foram deslocadas para a região.
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“Eu disse que cobraríamos um preço muito alto do Hamas. Vamos cobrar e continuaremos cobrando com grande intensidade. A última palavra não foi dita e esta operação continuará pelo tempo que for necessário”, declarou o premier Benjamin Netanyahu, no Twitter, enquanto as primeiras colunas de blindados se aproximavam de Gaza.
A maior parte dos foguetes lançados pelo Hamas desde segunda-feira foi interceptada pelo Domo de Ferro, o potente sistema antimísseis de Israel, mas 264 atingiram áreas habitadas. O volume maciço dos ataques e seu alcance, segundo o jornal Haaretz, surpreendeu os militares israelenses.
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As lideranças do grupo islamista pareciam estar dispostas a aceitar um cessar-fogo, mas Nadav Argaman, chefe do serviço de Inteligência israelense e responsável por operações que já mataram ao menos 10 chefes e comandantes do Hamas e várias outras do grupo Jihad Islâmica, afirmou mais cedo que “ainda não é hora de parar”.
Apesar da pressão internacional, não é esperado que as hostilidades diminuam até que Israel esgote seus alvos militares em Gaza, em especial os centros de produção dos foguetes e os escritórios das lideranças.
Os militares israelenses destruíram nesta quinta-feira mais um prédio residencial na Cidade de Gaza, o quarto desde o início dos confrontos, além de ao menos um armazém de armas, um túnel e vários postos de lançamento de foguetes, todos supostamente ligados ao Hamas.
O principal centro de Inteligência do grupo islamista, diz o goveno israelense, também foi bombardeado com “dezenas” de soldados dentro. Não está claro quantos morreram.
A ofensiva contra Israel, por sua vez, também continua, com 160 foguetes lançados apenas nesta quinta-feira: ao longo da tarde (manhã no Brasil), sirenes tocavam novamente em Tel Aviv e em diversas cidades no Sul e no centro do país. A maior parte dos ataques foi interceptada pelo Domo de Ferro.
O Hamas também atacou o Aeroporto de Ramon, na cidade de Eilat, para onde muitos voos estavam sendo redirecionados após as aeronaves com destino a Tel Aviv terem suas rotas desviadas, paralisando brevemente as operações. Diante da escalada, diversas companhias aéreas internacionais cancelaram seus voos para o país.
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As autoridades médicas de Gaza afirmam que os ataques, que deixaram até agora pelo menos 621 feridos no território, sobrecarregam um sistema de saúde já extenuado pela pandemia da Covid-19.
Não há registro de novas mortes em Israel desde a noite de quarta (tarde, no Brasil), quando o menino de 5 anos foi morto em um ataque na cidade de Sderot, a cerca de dois quilômetros da fronteira, lançado em represália à morte dos comandantes do Hamas.
Despejos de Sheikh Jarrah
O estopim para a escalada foi a violência de segunda-feira na mesquita de al-Aqsa , o terceiro lugar mais sagrado para o Islã, quando a polícia israelense feriu mais de 300 palestinos. A cidade é uma panela de pressão desde o início do mês do Ramadã — que terminou na quarta — devido à ameaça de expulsão das quatro famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, ocupada por Israel em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias.
A Suprema Corte deveria ter decidido na segunda se permitiria um recurso ou se manteria a decisão de expulsar os 30 adultos e 10 crianças, mas adiou o veredicto no domingo para algum momento nos próximos 30 dias.
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As quatro famílias palestinas afirmam que vivem na região desde 1950, quando foram realocadas pela Jordânia após serem forçadas a abandonar suas casas em Jerusalém Ocidental e Haifa durante a guerra com os vizinhos árabes que se seguiu à criação do Estado de Israel, em 1948. O temor é que seu despejo, algo que a ONU caracterizou como um possível “crime de guerra” , crie precedentes para expulsões em ampla escala.
Os israelenses que entraram com a ação, por sua vez, dizem que compraram as propriedades legalmente de duas associações judaicas que as haviam adquirido no final do século XIX. Pela lei local, se os judeus puderem provar que sua família vivia em Jerusalém Oriental antes de 1948, teriam o “direito à propriedade”. Não há legislação semelhante que permita aos palestinos fazer o mesmo em Jerusalém Ocidental ou outras partes do que hoje é o território reconhecido de Israel.